O que é literatura de cordel, afinal?

César Obeid, é um paulista que se dedica à literatura infantojuvenil. É escritor premiado, educador e contador de histórias. Realiza palestras, oficinas, workshops, seminários, encontros com leitores e mesas de debate por todo o país. Se quiser saber mais sobre o trabalho do César, acesse o site dele: http://www.cesarobeid.com.br/

No vídeo abaixo, ele explica de forma simples o que é a literatura de cordel. https://www.youtube.com/watch?v=80eX1e0NVzw

Cordel em cena…

A Novela Cordel Encantado, produzida pela Rede Globo e exibida no horário das 18 horas no ano de 2011, teve como cenário o sertão brasileiro e narrou o romance dos protagonistas como um conto de fadas.

Utilizou a temática da literatura de cordel e, por isso, das 16 músicas que compuseram a trilha sonora da novela,  13 foram interpretadas por cantores nordestinos. Para dar o toque especial, utilizou de animação de cordel para a abertura.

Com todo esse capricho e formato inovador na dramaturgia brasileira, a obra conquistou o troféu imprensa de melhor novela.

Veja que charmosa a abertura:

Gosta de criar e brincar com literatura de cordel? Então não deixe de visitar a página digital do “Bloguinfo”, que está com dicas ótimas!

Acessando o link http://bloguinfo.blogspot.com.br/2015/04/projetos-sobre-cordel.html do Bloguinfo, você encontra diversos projetos que utilizam a literatura de cordel.

Lá tem ferramentas para desenvolver cordéis, dicas de páginas com acervo de literatura de cordel, cordel animado, e indicações de outras páginas sobre o tema.

Se você é um apaixonado por literatura de cordel ou apenas um curioso sobre o assunto, vai se encantar com as dicas.

Acesse e divirta-se!!!

Olá! Somos alunas do Curso de Letras e a intenção desse blog é, junto com vocês, aprender mais sobre a literatura de Cordel.

No blog há informações sobre a origem, dicas de como criar a Literatura de Cordel e exemplos.

Se você já produziu algum cordel e quer compartilhar conosco, aqui é o lugar! 😉

Observamos que todas as imagens do blog foram retiradas da Internet, respeitando sempre as normas dos direitos autorais.

Você sabe fazer literatura de cordel? Aprenda e faça o seu também!

O Cordel Interativo abre também espaço para você poder nos mostrar sua criatividade. Basta seguir os passos abaixo para criar seu cordel, nos enviar através dos comentários e então publicaremos sua obra com satisfação!
Lembre-se apenas de respeitar as normas de direitos autorais, assim como os direitos de imagem, caso venha a utilizar trechos ou a íntegra de cordéis já existentes. E lembre-se também de sempre utilizar uma linguagem respeitosa, uma vez que esse é um espaço público e para diversão criativa!

Noções de métrica e rima

Por Izaías Gomes de Assis

(Fonte: http://cordeldobrasil.com.br/v1/aprenda-fazer-um-cordel/)

O que é literatura de cordel?

É uma narrativa poética popular escrita com métrica e com rimas soantes (perfeitas ou quase perfeitas).

O que é um verso?

É cada uma das linhas constitutivas de um poema. (o mesmo que pé).

Versos brancos: versos não rimados; versos soltos.
Verso de seis pés: sextilhas
Verso de pé quebrado: Verso errado ou malfeito

O que é estrofe?

É um grupo de versos que apresentam, comumente, sentido completo, o mesmo que estância. Existem vários tipos de estrofes, no cordel as mais usadas são: quadra (que caiu em desuso), sextilha, setilha e décima. Veja os exemplos abaixo:

Quadra (estrofes de quatro versos de sete sílabas)

O sabonete cheiroso,
Bonitinho e perfumado;
Ele ouviu alguns rumores
Que o deixou encabulado. (A briga do sabão com o sabonete, Izaías Gomes de Assis)

Sextilhas (estrofes de seis versos de sete sílabas)

A sujeira aqui em baixo
Já está fazendo mal
E o Homem achando pouco
Lá no Espaço Sideral
Contamina nossa órbita
Com o lixo espacial. (A Terra pede socorro, Izaías Gomes de Assis)

Setilhas (estrofes de sete versos de sete sílabas)

Bin Laden conectado
Com Nete ficou teclando
Passando noites no Messagen
Por ela se declarando.
Bom! Gosto não se discute,
Mas não é que pelo Orkut
Um romance foi rolando. (Férias que Bin Laden passou em Natal, Izaías Gomes de Assis)

Décimas

Se eu morrer neste lugar
Cessando aqui minha lida
Lá do outro lado da vida
Do Sertão hei de lembrar
E se Deus me castigar
Será branda a punição
Pois ele dirá então:
– Pior castigo foi ser
Um sertanejo e viver
Distante lá do Sertão. (Saudades do meu sertão, Izaías Gomes de Assis)

O que é métrica?

Arte que ensina os elementos necessários à feitura de versos medidos.
Sistema de versificação particular a um poeta: (Dicionário Aurélio)

Uma sílaba poética é diferente de uma sílaba comum. É possível unir duas ou mais sílabas ou fonemas em apenas uma sílaba poética. Veja o verso abaixo:

Lá do_outro lado da vida

Observe que essa estrofe tem oito sílabas comuns, mas poeticamente só tem sete sílabas metrificadas.

1     2      3     4    5    6   7
Lá do ou  tro   la   do da vi da

A sílaba poética é pronunciada como ouvimos os versos, por isso a sonoridade é importante num verso metrificado (a essa contração dá-se o nome de crase ou elisão) e só se conta as sílabas até a sílaba tônica da última palavra.
Veja outro exemplo:
Em pleno século vinte,
O colossal transatlântico
Partindo lá da_Inglaterra
E_atravessando o Atlântico,
Chega à_América em cem horas.
Feito digno de ntico. (Manuel Azevedo, A tragédia do Nyengurg)

As sílabas em negrito são as sílabas tônicas das últimas palavras, onde termina a contagem das sílabas métricas, e as sílabas sublinhadas são as que se contraem formando uma única sílaba.

Observa-se que três vocais se contraindo no quinto verso e no sexto verso a consoante “g” forma uma sílaba.
Na literatura de cordel geralmente usa-se os versos de sete sílabas (redondilhas maiores) e os versos de dez sílabas (decassílabos). Outro ex.:

Vou narrar uma história
De_um pavão misterioso
Que levantou vôo da Grécia
Com um rapaz corajoso
Raptando_uma condessa
Filha de_um conde_orgulhoso. (* Romance do Pavão Misterioso.)

O que é rima?

Identidade de som na terminação de duas ou mais palavras. Palavra que rima com outra.

Rimas ricas

Rimas entre palavras de que só existem poucas, ou raríssimas, (chamadas também de rimas difíceis) com a mesma terminação, como novembro e dezembro; túmido e úmido, ou, segundo critério mais seguro, entre palavras de classes gramaticais distintas, como santo (adjetivo) e enquanto (conjunção), minha (pronome)e caminha(verbo).

Rimas pobres

Rimas entre palavras de que se encontra superabundância com a mesma terminação, (chamadas também de rimas fáceis) como agonia e sombria; caminhão e pão ou entre palavras antônimas, como fiel e infiel, simpático e antipático, ou, ainda, segundo critério preferível, entre vocábulos da mesma classe gramatical, como chorasse (verbo) e cantasse (verbo); meu (pronome) e seu (pronome).

Rimas toantes

Aquelas em que só há identidade de sons nas vogais, a começar das vogais tônicas até a última letra ou fonema, ou algumas vezes, só nas vogais tônicas, ex.: fuso e veludo; cálida e lágrima. (essa forma não é aceita na cantoria nem na literatura de cordel).

Rimas consoantes

As que se conformam inteiramente no som desde a vogal tônica até a última letra ou fonema. Ex.: fecundo e mundo; amigo e contigo; doce e fosse; pálido e válido; moita e afoita.  (essa é a forma adotada nas cantorias e na literatura de cordel por ser uma rima perfeita).

Palavras com grafia diferente, mas com fonemas (sons) iguais são consideradas rimas perfeitas, ex.: chorasse e face; princesa e riqueza; peça e pressa; seis e mês; faz e mais, PT e dendê.

Temos que ter maior cuidado com palavras estrangeiras, porém podem ser usadas, ex.: discute e orkut; batuque e notebook; bauex e você; Internet e chevete, gay e rei. (Existe uma linha de poetas contemporâneos que não utilizam a rima com grafia diferente).

Rimas aparentes (em hipótese alguma se usa no cordel)

São palavras que enganam pelas suas sonoridades parecem que rimam com outras, porém não rimam, ex.: Ceará e cantar; café e chofer; doutor e cantou; desistir e aqui; preferido e amigo; esperto e concreto, pensamento e centro; menina e clima; métrica e genérica; pensamento e tempo vazio e sumiu;cururu e azul.

Cuidado que tem palavras que praticamente não existem rimas para elas, ex.: pizza, tempo, cinza e lâmpada.

CUIDADO: Não se rima plural com singular.

Devido um fato histórico-linguístico não se rima palavras terminadas em “l” com terminadas em “u”, ex.: Brasil e viu; Natal e bacurau Gabriel e chapéu não rimam.

Você sabia???

O site Cultura Nordestina postou algumas curiosidade sobre a história da literatura de cordel… Vamos conhecer?

Surgem os primeiros folhetos
Com a invenção da imprensa pelo alemão Johannes Gutemberg, por volta de 1440, os livros impressos ficaram com o custo mais acessível, e mais pessoas vieram a se interessar pela palavra escrita. Foi quando os trovadores perceberam a oportunidade de aumentar seus rendimentos e passaram a oferecer também o texto impresso de seus poemas, ao final de suas apresentações.

No início, esses versos não tinham ainda o formato de livrinhos encadernados e se constituíam de folhas soltas. Por isso, em Portugal ganharam o nome de folhas volantes. Na Espanha ficaram conhecidas como pliegos sueltos e na França como Ittérature dcolportage.

A tradição chega ao Brasil
Junto com os colonizadores portugueses, a tradição dos trovadores e folhetos chegou ao Brasil e aos poucos, começou a se difundir pelo interior do país. E foi no sertão do Nordeste que acabou ganhando mais força e aceitação. Apesar de estar presente em nosso país desde o século XVI, somente no final do século XIX é que a literatura de cordel começou a adquirir a forma que conhecemos até hoje: livrinhos – também chamados de folhetos – encadernados e histórias contadas em estrofes de seis versos cada, a sextilhas.

E nessa mesma época surgiram os primeiros grandes mestres da literatura de cordel, como Ugolino Nunes da Costa, Germano da Lagoa e o mais conhecido de todos, Leandro Gomes de Barros (1868-1918).

De onde vem o nome cordel
Para entender a origem do nome, precisamos compreender como trabalhavam os vendedores de folhetos. Em sua eterna correria de feira em feira, viajando a cada dia para um lugarejo diferente, os vendedores tiveram de inventar uma maneira prática e barata de expor seus livros aos clientes e leitores.

Numa livraria tradicional, os livros são colocados em estantes e prateleiras. Como não podem carregar esses móveis pesados com eles, os vendedores de folhetos costumam trazer em suas malas, junto com os livros, vários rolos de barbante. Ao chegar a praça do mercado, eles esticam essas cordinhas (ou cordéis) entre dois postes ou duas árvores e nelas penduram os livrinhos abertos na página central. Foi daí que surgiu o termo literatura de cordel, que conhecemos até hoje. Nos dias de vento, os vendedores prendem os livrinhos com regadores de roupa e pronto: está montada a livraria!

A figura do vendedor de folhetos
Nem sempre os livrinhos são vendidos pelo próprio poeta que os escreve. No entanto, a maioria dos vendedores de livrinhos de cordel sabe cantar e declamar os versos que vendem. Para aumentar o interesse pela mercadoria, os vendedores costumam reunir uma roda de interessados e, ali, começam a declamar os versos de algum livro de sucesso.

Se o assunto é interessante, mais pessoas vão se aproximando. Quando a história chega ao momento de maior suspense, o vendedor interrompe a leitura, sorri para a multidão e pisca o olho dizendo:

– Para conhecer o final da história só comprando o livrinho!

Todos correm a comprar os folhetos. Logo após o esperto vendedor recomeça com a leitura de um novo livro e assim, nu bom dia chega a vender centenas de obras.

A aparência dos folhetos 
O livrinho – o folheto – de cordel tradicional mede cerca de 10x16cm e tem geralmente 8,16 ou 24 páginas. Raramente chega a 32 e raríssimos são os romances de 64 páginas. O papel é barato, bem fininho e de cor amarelada. O texto é todo em versos, quase sempre estrofes de seis versos cada uma.

Outra característica dos livros de cordel pode ser encontrada nos últimos versos de um folheto, onde o autor assina sua obra por meio de um ACRÓSTICO. O acróstico é um nome ou palavra resultante da união das primeiras letras de cada um dos versos de uma estrofe.

Os folhetos de cordel tradicional quase nunca trazem ilustrações em seu interior, mas as capas costumam mostrar gravuras feitas em xilografia. Nessa técnica o artista reproduz o desenho a través de um carimbo de madeira, escavado cuidadosamente com canivete ou formão.

(Fonte: http://culturanordestina.blogspot.com.br/2007/09/histria-do-cordel.html)

As muitas faces da Coroa, de Tere Penhabe

Coroa, peça vistosa
usada por ancestrais.
Alguns, pouco a mereciam,
outros mereciam mais.
O símbolo do poder!
Que para chegar a ter
se matava por demais.

Feita de ouro maciço
e de pedras preciosas,
nem teria preço aquilo,
pois que foram valiosas.
E como sempre, arrancado,
lá do proletariado,
seja em tributos ou prosas.

Espalhadas pelo mundo,
nos mais diversos rincões,
elas tinham quase sempre,
parceria nos sermões.
Que a igreja vela o poder,
mesmo se não pode ter,
dele, arranca os seus milhões.

Como cunho de moedas,
a coroa se alastrava,
desde os tempos que cachorro,
com linguiça se amarrava.
Que seja por ironia,
coroa é o que mais queria,
até quem não precisava.

Então virou um pendão
para decidir a sorte,
nos botequins mundo afora,
de algo, garante o porte.
Escolher cara ou coroa,
vale qualquer coisa à toa,
menos a hora da morte.

Emprestaram a tal coroa,
(sei eu lá porque também)
para o artefato vistoso,
que tem na boca de alguém.
Sendo o seu dente, postiço,
feito de ouro maciço,
coroa é o nome que tem.

E lá no Espírito Santo,
já virou refrigerante,
de ínumeros sabores,
que o povo bebe bastante.
Pede-se uma coroa,
deve ser bebida boa,
já que o seu nome garante.

E se falarmos de plantas…
é coroa em cada clique!
A coroa-imperial,
Coroa-de-moçambique,
Coroa-de-cristo ou frade,
para mim é novidade,
deve ser flor muito chique.

Para a pobre da viúva,
a coroa foi fatal,
já que lhe empretou o nome,
trepadeira ornamental.
E a coroa-de-viúva,
veste tal qual uma luva,
calúnia injusta e banal.

E foi selo das colônias,
de D.Luiz, ao reinar.
O campeonato de turfe,
de coroa, vi chamar.
E para a simbologia,
Cruz coroada servia,
também Coroa solar.

Mas o pior apelido,
que da coroa tiraram,
é o que choca e deprime,
mentira que propagaram.
Essa não dá pra entender,
por mais que venha a querer,
foram loucos que inventaram.

Pois a pobre da mulher,
e o homem também, se diga,
quando já está na ladeira,
que o que mais tem é barriga…
São chamados de “coroa”.
Quem pensa que é coisa boa,
oh céus! Não compre essa briga.

Contrário ao que mais parece,
(que coroa é uma menina)
Coroa é aquela mulher,
que já está com tudo em cima!
Seio em cima da barriga,
barriga, o joelho castiga,
em cima da perna fina.

Homem coroa é igual.
Eita fase que encafifa!
Que ele tenta, tenta, tenta
e no colchão se espatifa.
Nada mais funciona ou presta,
se esforça, mas só molesta,
geme, bufa, funga e pifa.

(Fonte: http://www.amoremversoeprosa.com/cordel/600asmuitasfacesdacoroa.htm)

Temos aqui exemplos de capas de Literatura de Cordel:

Como podemos ver nas capas abaixo, muitos autores aproveitam e fazem críticas e sátiras para retratar a realidade da sociedade ou para relatarem algum fato marcante ocorrido na época, como a última capa de um cordel intitulado “Carta do Satanás a Roberto Carlos” e que foi inspirada na famosa música do rei “Quero que vá tudo para o inferno”:

cordel 2-thumb-600x574-33920

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Fonte: http://lounge.obviousmag.org/memorias_do_subsolo/2013/01/literatura-de-cordel-a-memoria-do-sertao-em-folhetos-de-papel.html